Desenho – Produção Artística, Passo a passo 9 de como desenhar por Rosângela Vig

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Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

Desenho de um Moinho na Holanda

Gostaria de pintar retratos que daqui a cem anos aparecessem como uma revelação (…) não por fidelidade fotográfica, mas antes (…) pela valorização de nossos conhecimentos e de nosso gosto presente na cor, como meio de expressão e de exaltação do caráter.
(VAN GOGH, 2007, p.48)

Passo a passo 9 de como desenhar

Van Gogh estava certo. A cor é um importante componente da obra. Sua justa distribuição dispensa elementos e formas em demasia. O artista treina o olhar para a cor e aprende a lidar com elas, com maestria. Sua acomodação impecável resulta em agradável sensação, ao olhar. Os efeitos prazerosos na mente do apreciador da Arte são duradouros. Talvez seja esse o principal ingrediente da obra que será feita hoje, inspirada nos campos da Holanda de Van Gogh.

É bem provável que a música clássica e paixão pela Arte tenham me transportado a esses campos floridos da Holanda, repletos de cores, ao sabor do vento, sentindo perfumes de mato, de flores, sob o calor aconchegante do sol, no rosto. Pode ser que tenham me escapado os detalhes de cada pétala, de cada folha. Mas o colorido dos campos suscitou a durável lembrança das cores, passeando pelo papel em branco, em linhas paralelas desiguais, feito ondas, como se estivessem em preguiçoso movimento. Falo hoje dessas cores e da vontade de caminhar por esses campos. A matéria-prima desse trabalho é a cor e o efeito que ela proporciona ao olhar, não importam os detalhes, nem a exatidão da forma.

Fig. 1 – Campos de Flores, sobre papel com textura, Rosângela Vig.
Fig. 1 – Campos de Flores, sobre papel com textura, Rosângela Vig.

Utilizei para isso uma folha de tamanho A4, com gramatura 160, com textura (Fig. 1), mas o mesmo trabalho também foi feito em folha craquelada (Fig. 2) e em folha reciclada (Fig. 3), com mesmo tamanho e mesma gramatura, com lindos e diferenciados efeitos em cada um.

A partir de uma linha reta, feita com a régua, no sentido horizontal, iniciei meu trabalho. Vale lembrar que tanto para a tela, como para o desenho, essa linha é essencial para o artista se orientar onde a cena se assenta e onde termina. Fiz outras linhas horizontais irregulares, como são os campos de flores, apenas delineados pela mão livre, sem me preocupar com a exatidão. As linhas devem ainda ser feitas levemente com o lápis, para que seus contornos não apareçam no trabalho final, porque tudo será pintado com cores muito suaves.

Fig. 2 – Campos de Flores, sobre papel craquelado, Rosângela Vig.
Fig. 2 – Campos de Flores, sobre papel craquelado, Rosângela Vig.

A pintura deve iniciar sempre de cima para baixo, quando se trata de lápis, para que não se suje o que já foi pintado. Então iniciei a pintura do céu, deixando espaços em branco para as nuvens. Salpiquei o cinza nesses espaços em branco, deixando um tom mais escuro na parte inferior de cada nuvem. Tudo feito de maneira muito leve e muito solta.

No campo superior da cena, o verde musgo foi fundamental para dar o aspecto de distância. Quase azul, essa cor é ideal para a pintura de montanhas e de montes remotos. Utilizando a pintura em sentido diagonal, com o lápis quase solto na mão, para cada campo, fui gradativamente do amarelo, para o verde, deixando que as duas cores se mesclassem levemente, quase se misturando. Manchei com o tom de amarelo mais escuro, sobre o amarelo claro, para cada campo, reforçando a luz solar. Os tons de amarelo fortalecem a ideia de mato seco ou de flores. O fato das linhas dos campos serem irregulares leva à sensação de movimento das plantas, em virtude da brisa. Da mesma forma que os campos verdes, pintei os campos floridos com as cores laranja e vermelha. Gosto de enfatizar que, como o trabalho está sendo feito com liberdade, não importa que alguns pontos dos campos fiquem um pouco mais escuros, porque isso é o que destaca o movimento e a sombra.

Fig. 3 – Campos de Flores, sobre papel reciclado, Rosângela Vig.
Fig. 3 – Campos de Flores, sobre papel reciclado, Rosângela Vig.

Ao fazer uma obra, o artista deve sempre conhecer de que lado vem a luz, em sua cena. Nesse trabalho, a luz vem do lado direito. Portanto, a pintura do moinho deve estar de acordo com a direção da luz e sua sombra deve ser do lado oposto. Por esse motivo, o moinho tem seu lado direito mais iluminado e o esquerdo, mais escuro. Para esse moinho, utilizei os tons de marrom e de amarelo. O lápis de cor preto foi deixado por último, para o acabamento. Reforcei então a sombra do moinho, do lado esquerdo, sobre a plantação e em vários pontos dos campos de flores, tudo de forma muito leve e solta, sem uma regra. Com o lápis preto, ainda desenhei as pás, fazendo uso de uma régua.

A simplicidade é o que proporciona leveza a uma obra. Não importam as formas irregulares da plantação. O principal elemento aqui foi a cor. E a quem criar outra Holanda como essa, vale a liberdade de ousar pelo campo das cores deixando o espírito livre. A autonomia do artista é que torna uma obra única e bela.

Confira o vídeo 1 da produção da obra Campos de Flores:

Vídeo 2:

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Vídeo 3:

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Artigos sobre a História da Arte da Rosângela Vig:

Referências:

  1. RUSSO, Martin Ernesto. Grandes Mestres da Pintura, Vincent Van Gogh. Barueri: Editorial Sol, 2007.

As figuras:

Fig. 1 – Campos de Flores, sobre papel com textura, Rosângela Vig.

Fig. 2 – Campos de Flores, sobre papel craquelado, Rosângela Vig.

Fig. 3 – Campos de Flores, sobre papel reciclado, Rosângela Vig.

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