Claudio Tozzi volta a fazer uma exposição individual em São Paulo. A exposição, Emblema da Cultura Brasileira – Retrospectiva da Obra Gráfica, com uma visão panorâmica da obra gráfica do artista nos últimos 50 anos, acontece na CAIXA Cultural São Paulo, com abertura em 13 de Março, terça-feira, às 19 horas, e visitação até 20 de Maio.
Com curadoria de Manuel Neves, a mostra reúne 93 obras produzidas entre 1968 e 2018 – é a mais completa exposição já realizada sobre a produção gráfica de Claudio Tozzi. Nela pode-se perceber que o artista apresenta soluções técnicas coerentes com cada fase de sua produção pictórica, com utilização de variados processos de reprodução gráfica: serigrafia, xerox, litografia, gravura em metal, zinc offset e digitografia.
Existe na produção de Tozzi uma absoluta coerência de linguagem entre sua pintura e o meio de reprodução utilizado em cada fase. Assim, as cores chapadas dos astronautas e multidões da década de 60 são reproduzidas pelo processo de serigrafia. Os parafusos, mais simbólicos e contidos, exigem técnica mais intimista, a gravura em metal.
A produção mais recente de Tozzi exige técnicas e superposições de retículas gráficas, que permitem ao espectador uma percepção mais ampla da forma e da cor através da somatória ótica de retículas com variações de seus matizes.
As imagens reunidas na exposição englobam toda a produção de Claudio Tozzi, em suas diversas fases: multidões, bandido da luz vermelha, astronautas, parafusos, cor pigmento luz, recortes e territórios – esta última, a fase mais recente.
Emblema da Cultura Brasileira é resultado de uma pesquisa do curador e historiador Manuel Neves, realizada na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, trabalho que investigou a produção da arte brasileira na segunda metade da década de 1960, na qual a obra de Claudio Tozzi ocupa destacado lugar.
A pesquisa tem o título “Image Pop: Pop art presence et négation dans l’art brésilien des années soixante”. Em idioma francês, foi editada na Europa pela Éditions Universitaires Européennes, Sarrebruck. Não está ainda publicada no Brasil.
![Claudio Tozzi – Sem título – 1986, serigrafia sobre papel, 50 cm x 72 cm. Foto: Divulgação. Claudio Tozzi – Sem título – 1986, serigrafia sobre papel, 50 cm x 72 cm. Foto: Divulgação.](https://cdn.obrasdarte.com/wp-content/uploads/2018/03/Claudio_Tozzi_Sem_titulo_1986.jpg)
Coerência formal e discursiva – Texto do curador Manuel Neves no catálogo da exposição:
Surgido na convulsionada década dos 60, Claudio Tozzi é um artista fundamental na cena contemporânea brasileira. Sua obra, como a dos artistas mais importantes de sua geração, articula uma mudança radical no estatuto da imagem artística, tomando e reprogramando os modelos visuais projetados pelos meios de comunicação e a indústria do espetáculo, para produzir uma obra figurativa, chamada genericamente no mundo anglo-saxão de pop art.
Estas obras procuram, em sua estratégia formal, ser um reflexo do contexto social e político, dramático e convulsionado vivido pelo artista em meados dos anos 60, de começo da ditadura militar.
Este momento se traduziu numa perda das liberdades fundamentais, e na consequente violenta política de censura posta em prática em todos os âmbitos da cultura e da educação.
Assim, o jovem artista, reprogramando tanto a imagem dos meios de comunicação, como na estética pop de circulação internacional, produz uma obra de grande impacto visual, que projeta imagens dos protestos políticos e dos problemas sociais, nas séries fundamentais das Multidões e do Bandido da luz vermelha, e as imagens idealizadas dos avanços científicos promovidos pelos países centrais, como a série dos Astronautas.
Na década dos 70 sua obra processa uma reflexão conceitual radical que por um lado tentou mostrar essa realidade social e política, articulando uma estratégia visual com um forte caráter metafórico e também uma sedução estética que pudesse evitar a censura prevalecente na ditadura mas sem perder um discurso crítico e reflexivo desse dramático momento social e político. Nesse sentido, será emblemática a série dos Parafusos, e também a série de obras apresentadas na Bienal de Veneza em 1976.
Posteriormente, durante as décadas dos 80 e 90, o artista realizou uma investigação formal, onde pesquisou as imagens que sintetizavam a cultura brasileira, assim como reformulou o legado da geração de artistas concretos.
Serão importantes nesse momento as representações sobre a urbe de São Paulo, que refletiram as mudanças radicais produzidas em nível urbano na cidade durante esse período, como as obras pensadas para se realizar a nível urbano, em prédios, avenidas ou estações de metrô.
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Nas últimas décadas, o artista continua pesquisando o legado concreto, mas refletindo seu impacto a partir da perspectiva do designer, produzindo obras onde não podemos reconhecer os limites entre pintura, objetos e escultura.
A obra produzida por Claudio Tozzi em mais de cinco décadas, que se desenvolve em pintura, escultura e mural, teve igual e complexo desenvolvimento na produção gráfica. Emblema da cultura brasileira reúne mais de noventa obras, produzidas com as mais diferentes técnicas reprodução gráfica, como serigrafia, litografia, gravura em metal e xerox, sendo a exposição mais completa realizada até o momento sobre a produção gráfica do artista.
Este corpus de obras não só demonstra a coerência formal e discursiva desenvolvida por Claudio Tozzi durante mais de cinquenta anos de labor na gráfica. Demonstra também como a edição gráfica foi uma ferramenta fundamental de investigação e experimentação formal e, ao mesmo tempo, uma reflexão política sobre o espaço da arte na sociedade atual e seus mecanismos de distribuição, dentro de uma consciência permanente do artista da importância da popularização da arte, como da ampliação constante de seu público.
![Claudio Tozzi – Sem título – década 2000, serigrafia sobre papel, 72 cm x 101 cm. Foto: Divulgação. Claudio Tozzi – Sem título – década 2000, serigrafia sobre papel, 72 cm x 101 cm. Foto: Divulgação.](https://cdn.obrasdarte.com/wp-content/uploads/2018/03/Claudio_Tozzi_Sem_titulo_2000.jpg)
O artista – Nascido em 1944, o paulistano Claudio Tozzi estudou no Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (1956 a 1962) e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1964 a 1969), onde trabalha como professor.
Iniciou seu percurso de artista no começo da década de 60, através da apropriação de objetos, imagens de jornais, história em quadrinhos e fotografias associadas a conotações simbólicas de conteúdo social. Em 1967, seu painel Guevara, Vivo ou morto…, exposto no Salão Nacional de Arte Contemporânea, é destruído a machadadas por um grupo radical de extrema direita, sendo posteriormente restaurado pelo artista. Tozzi viaja a estudos para a Europa em 1969. A partir dessa data, seus trabalhos revelam uma maior preocupação com a elaboração formal.
Na década dos 70 cria em sua pintura uma sintaxe através da construção de uma trama de retículas e granulações cromáticas, que resultam em estruturas e espaços de intensos significados simbólicos. É um processo mais cerebral e perceptivo, que emocional e expressivo, do qual a essência é o conceito, a estrutura e a construção do espaço da pintura.
A partir da década de 80, até as obras mais recentes, intensifica sua preocupação formal e passa a trabalhar com elementos estruturais básicos: linhas, planos, cores, formas orgânicas, matérias; que criam analogias formais com imagens preexistentes e ampliam seu caráter construtivo.
Em seu processo metódico e objetivo, Claudio Tozzi utiliza ícones visuais – parafusos, escadas, fragmentos de objetos, símbolos tropicais, espaços urbanos etc. – e os desconstrói, captando seus aspectos essenciais, revelando-se, desta forma, artista de elevado rigor formal, cuja obra transita por vertentes construtivas e conceituais.
Serviço – A CAIXA Cultural São Paulo fica na Praça da Sé 111, Centro (Estação Sé do Metrô), tel. 3321-4400. |
A exposição Emblema da Cultura Brasileira – Retrospectiva da obra gráfica, de Claudio Tozzi, tem abertura em 13 de Março de 2018, das 19 às 21 horas. |
Visitação até 20 de Maio de 2018 – de terça a domingo, das 9 às 19 horas. |
Ingressos: ENTRADA FRANCA. |
Classificação etária: Livre. |
Patrocínio: Caixa Econômica Federal. |
Mais informações pelo telefone 3321-4400. |
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![Claudio Tozzi – Sem título – 2018, serigrafia sobre papel, 40 cm x 70 cm. Foto: Divulgação. Claudio Tozzi – Sem título – 2018, serigrafia sobre papel, 40 cm x 70 cm. Foto: Divulgação.](https://cdn.obrasdarte.com/wp-content/uploads/2018/03/Claudio_Tozzi_Sem_titulo_2018.jpg)