Abertura dia 23 de julho, às 15h
As conhecidas imagens das amas-de-leite negras, registradas desde meados do século XIX ao início do século XX, são o ponto de partida da pesquisa das artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa para a exposição MÃE PRETA, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN), na Gamboa.
A exposição MÃE PRETA integra o Circuito Cultural Rio, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio, para a programação cultural dos períodos Olímpico e Paraolímpico, que vai de maio a setembro de 2016. A mostra, que também faz parte da programação oficial do FotoRio 2016, busca traçar os elos e ressonâncias entre a condição social da maternidade durante a escravidão e as vozes de mulheres e mães negras na contemporaneidade. A exposição reúne obras em fotografia, gravuras, vídeo e instalações criadas especialmente para o IPN, onde está localizado o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, no qual milhares de africanos escravizados recém-chegados ao país foram enterrados à flor da terra, na primeira metade do século XIX.
“A exposição é uma reinvenção poética da iconografia relacionada às mães pretas dentro de uma linguagem contemporânea, tendo como ponto de partida imagens do acervo do Instituto Moreira Salles e releituras de livros com gravuras de Jean-Baptiste Debret, Johan Moritz Rugendas e outros artistas. Por meio de intervenções nessas imagens com objetos óticos, como lupas e vidros, destacamos a complexidade das relações das amas-de-leite com as crianças brancas de seus senhores, e das mulheres escravizadas e seus próprios filhos. De tão conhecidas, estas imagens são vistas de forma superficial e não revelam as histórias de violência sofridas por estas mulheres”, explica Patricia Gouvêa.
- Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles. Partida para a colheita do café, c.1885, Vale do Paraíba. Da série Modos de Olhar, Interferência em fotografias de Marc Ferrez. Patricia Gouvêa e Isabel Löfgren, 2016.
- Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles. Partida para a colheita do café com carro de boi, c. 1885, Vale do Paraíba. Da série Modos de Olhar, Interferência em fotografias de Marc Ferrez. Patricia Gouvêa e Isabel Löfgren, 2016.
Nesse sentido, marcas naturais do tempo em reproduções de negativos de Marc Ferrez são aproveitadas para simbolizar cicatrizes expostas em composições fotográficas, em substituição a cópias perfeitas. Trata-se de uma estratégia artística cujo objetivo é realçar o salto temporal entre o passado e o presente e as invisibilidades, lacunas e silêncios vividos pelas retratadas, que continuam a reverberar no presente das mulheres negras brasileiras.
“A exposição busca ligar a representação daquelas mães pretas e da maternidade em arquivos históricos do período colonial ao protagonismo exercido pelas mães negras de hoje. Nosso posicionamento é feminista no sentido de dar visibilidade às histórias das mulheres, além de questionar o motivo das lacunas históricas em relação ao papel fundamental da mulher negra na nossa história social e visual”, afirma Isabel Löfgren.
De acordo com Marco Antonio Teobaldo, curador da exposição, as artistas têm realizado uma apurada pesquisa nos últimos 18 meses sobre o tema, que desencadeou uma série de reflexões e perspectivas acerca da mulher negra no Brasil. Por esta razão, as autoras optaram por dar voz a estas mulheres, por meio de um trabalho em vídeo, para que elas possam falar sobre maternidade, discriminação, memória, ancestralidade e outros temas. Como parte de um trabalho mais conceitual, estatísticas de mortalidade infantil da época de funcionamento do Cemitério dos Pretos Novos serão comparadas com dados atuais.
- Da série Modos de Olhar, Interferência em gravura de Jean-Baptiste Debret. Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa, 2016. Divulgação.
- Da série Modos de Olhar, Interferência em gravura de Jean-Baptiste Debret. Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa, 2016. Divulgação.
A exposição deixará como legado uma reformulação da biblioteca do IPN, onde uma nova seção feminista reunirá títulos de autoras negras e obras sobre protagonismo negro. Além disso, uma área voltada para a literatura infanto-juvenil destacará títulos onde crianças negras são protagonistas. As paredes da biblioteca terão retratos de heroínas negras desde Anastácia, Tereza de Benguela e Nzinga de Angola às feministas afro-brasileiras Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, entre outras mulheres que representam as conquistas sociais, luta e resistência da mulher negra no Brasil.
O trabalho se propõe a contribuir para o debate sobre a memorialização da escravidão, que ocorre no Rio de Janeiro desde a descoberta do sítio arqueológico do Cais do Valongo, em 2010, com o resgate de parte da história da cidade e do Brasil até então soterrada. A programação da exposição inclui palestras e oficinas com historiadores da escravidão, escritoras e artistas negras que ativarão o espaço com reflexões sobre a representação de raça e gênero na sociedade. Uma publicação em papel jornal, suporte muito usado pela imprensa abolicionista, será distribuída gratuitamente.
As artistas trabalham juntas há mais de uma década e realizaram a exposição Banco de Tempo na Galeria do Lago/Museu da República em 2012, com publicação lançada em 2015. A dupla busca, em sua pesquisa artística, criar maneiras de relacionar lugares históricos e arquivos de imagens a debates atuais por meio da arte contemporânea. A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, com direção artística de Marco Antonio Teobaldo, vem realizando desde 2011 exposições e eventos com artistas e pensadores que possam contribuir para a reflexão sobre a memória da escravidão e da herança africana na cultura brasileira.
Inscreva-se para receber as Novidades sobre Eventos e o Universo das Artes primeiro!
- Da série Modos de Habitar, fotocolagens a partir de originais de Marc Ferrez, Georges Leuzinger, August Stahl, anúncios de jornais de época e radiografias. Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa.
- Da série Modos de Habitar, fotocolagens a partir de originais de Marc Ferrez, Georges Leuzinger, August Stahl, anúncios de jornais de época e radiografias. Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa.
CIRCUITO CULTURAL RIO
Idealizado pela Prefeitura do Rio, o Circuito Cultural Rio conta com mais de 700 atrações, selecionadas e patrocinadas por meio dos editais da Secretaria Municipal de Cultura, que serão apresentadas em mais de 100 espaços culturais espalhados por toda a Cidade, além dos eventos que acontecem ao ar livre. Com peças de teatro, exposições, shows, espetáculos de dança, atrações circenses, eventos de gastronomia, manifestações de rua, saraus, bailes e afins, o Circuito Cultural Rio vai possibilitar uma experiência integral da diversidade cultural carioca.
MÃE PRETA |
Exposição de Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa |
Curadoria de Marco Antonio Teobaldo |
Local: Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea |
R. Pedro Ernesto, 32/34,Gamboa, Rio de Janeiro, RJ |
+55 21 2516-7089 |
Data: Abertura 23 de julho às 15h |
Visitação: 25 de julho a 25 de setembro |
Visitação: 3a a 6a – das 13h às 19h | Sábado – das 10h às 13h |
Metro: Central |
Entrada franca |
Livre |
Pingback: Exposição vencedora do Edital de Ocupação de Artes Visuais 2017 da FCS | Site Obras de Arte