Desenho – Produção Artística, Passo a passo 6 de como desenhar por Rosângela Vig

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Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

Belo, belo, belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo – que foi? Passou – de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro,
Continuo a possuir o segredo da grande noite.
Belo, belo, belo,
Tenho tudo quanto quero.
(BANDEIRA, 2008, p.108)

Passo a passo 6 de como desenhar

Fig. 1 – Montanhas, árvores e pedras.
Fig. 1 – Montanhas, árvores e pedras.

O artista é aquele que tem um mundo em suas mãos. No vigor de sua inspiração, apagam-se as tribulações, esquecem-se os contratempos. A ideia viçosa, floresce, desabrocha e se tinge de cores, em pleno espaço vazio. No espaço alvo, as cores e as formas já existiam, para ele. Para o escultor, se a pedra é bruta, a imagem já estava lá, embutida, enrustiu-se de pedra e se desvestiu. E a obra germina, na pintura, na escultura, como germinou sempre, em toda a História da Arte. Tão certa, quanto o pôr do sol. E o que nada era, adquire espírito, veste-se de vida e exibe sua personalidade. Nasce uma obra.

Cabe a quem cria, seguir seu pensamento e acreditar que cada detalhe de sua ideia original é importante, para que a obra tome forma. Pode ser de grande valia um esboço em uma folha à parte. Então a cena vai se compondo, aos poucos, como num quebra cabeças, em que cada peça deve ser encaixada, uma a uma, delicadamente. Cada elemento é uma cena à parte. Planejar uma obra requer preencher lacunas, sobre o fundo branco, embora, muitas vezes, o Belo da obra, sejam os vazios, apenas preenchidos com cor, sem elementos. Faz pensar.

Planejar significa orientar a cena no papel e estimar em que local cada personagem, cada objeto estarão, para que tudo fique no lugar certo acompanhando a inspiração inicial. Com esse pensamento estou compartilhando os passos que eu mesma segui, de meu último trabalho, em texto, em fotos e em vídeo. A ideia é uma cena que irá compor uma história. E essa será a primeira parte. O Paraíso, como chamarei esse capítulo, será executado com lápis de cor sobre papel de gramatura 160, com 42 centímetros de altura, por 17,5 centímetros de largura, sem textura, de cor creme.

Fig. 2 – Detalhes do pássaro.
Fig. 2 – Detalhes do pássaro.

Seguindo então a inspiração que me arrebatou, por meio de um sonho, planejei a paisagem em um papel à parte, em simples esboço, para ter certeza de que todos os elementos estariam ali. Cheguei a escrever os nomes de tudo o que iria compor a cena, incluindo cores, animais e montanhas, embora não tenha usado todos esses elementos que planejei, para que não houvesse um efeito final de excesso de informação, de exagero. O papel retangular tinha que ser trabalhado no sentido vertical, para fazer o jogo das outras cenas. A dificuldade de se trabalhar com o papel nesse sentido consiste em preparar muitos planos, ou seja, elementos que ficam próximos e outros, em distâncias diferentes. Fiz então uma preparação desses planos no papel, na forma de três linhas retas, ao centro da folha, com uma distância média de 5 centímetros entre cada linha. Cada linha corresponderia a um plano.

Na cena vazia, os elementos foram então surgindo. As montanhas e as árvores ao longe; alguns animais um pouco mais próximos; e outros mais perto ainda. Para o posicionamento desses elementos entretanto, fiz um estudo de cores, para que os animais se destacassem na cena, sem se misturarem ao azul do céu ou ao verde da natureza. Não são necessários ainda, muitos detalhes da cena, apenas os riscos, feitos com o grafite 2B, que depois serão preenchidos com o lápis de cor.

Fig. 3 – Parte superior da cena.
Fig. 3 – Parte superior da cena.

Embora há muitos artistas que comecem pintando o fundo das cenas, minha preferência é por começar sempre a pintura, a partir da parte superior da folha, para a inferior (Fig. 3). Isso para que não se corra o risco de sujar ou borrar o que já esteja pintado. Vale lembrar que cada artista desenvolve sua técnica e a forma que mais lhe agrada, para sua criação. Assim é a liberdade na Arte.

Fig. 4 – Detalhes das árvores.
Fig. 4 – Detalhes das árvores.

Na cena que vai tomando forma, a parte superior do céu (Fig. 1) recebe um azul escuro, que vai aos poucos clareando, à medida que desce na folha. Passa depois para o lilás, depois para o avermelhado, para o laranja e finalmente para o amarelo, que representa o sol se pondo no horizonte, ao centro da imagem. As montanhas podem então começar a ser pintadas. As que estão mais ao fundo, no primeiro plano, estão em tom de azul médio, porque pouco se vislumbra de sua cor original, devido à distância. No segundo plano, descendo a imagem, as montanhas mais próximas são em tons de cinza, em uma parte delas, o amarelo claro, representa a luz do sol refletida sobre sua superfície e o preto, as partes que não estão iluminadas.

Note que as árvores (Fig. 4) estão em perspectiva e diminuem de tamanho em direção ao ponto de fuga, que fica no centro da imagem. Todas elas apresentam um lado mais claro e outro mais escuro, devido à luz do sol que incide sobre elas. O mesmo ocorre com o gramado um pouco à frente das árvores e com as pedras. Em meio às pedras e na água, as folhas do mato são irregulares, feitas com riscos leves, no sentido vertical, sempre de baixo para cima, nas cores preta, verde e marrom. A mesma luz que incide sobre as montanhas e sobre as árvores recai sobre os animais. Para dar esse efeito, apenas deixe em branco o que estiver iluminado.

Fig. 5 – Flamingo e peixe na água.
Fig. 5 – Flamingo e peixe na água.

Importante notar que a água representa um espelho e reflete tudo o que está acima. Nesse lago, devem estar as cores do céu, que são os azuis, o lilás, o vermelho, o laranja e o amarelo. Estão também o verde da mata e as cores variadas dos animais, logo abaixo de cada um deles. Na água, os peixes (Fig. 5) estão submersos, por isso suas cores não podem ser muito vivas. Eles ainda recebem uma leve tonalidade de azul, em virtude da cor da água. Nessa cena, o movimento da água é leve, há pequenas ondulações, que fragmentam as imagens, refletindo apenas as cores e os esboços. As pernas dos flamingos e os riscos das folhas de mato, devem ser riscados levemente, de forma irregular, abaixo deles, de cima para baixo, levemente ondulados, como se estivessem sendo entrecortados pelas ondas. Lembre-se de deixar na água alguns trechos em branco, representando essas leves ondas. Finalize reforçando em todo o desenho, com a cor preta nos locais, onde a luz do sol não incide.

Gosto de enfatizar que o artista é aquele que tem o espírito livre para atuar em seu trabalho e criar seus mundos. Mas vale lembrar que, muitas vezes, uma pesquisa sobre determinado tema que será tratado, pode trazer grande ajuda no desenvolvimento de uma ideia. E, um caderninho sempre junto do artista, pode ser um bom local para registrar essas boas ideias, para que elas não se dissipem. Deixar o trabalho durante alguns dias ou até semanas em local visível para o artista, pode levá-lo a amadurecer conceitos e tornar a obra mais próxima de sua ideia inicial.

Fig. 6 – Obra Paraíso, trabalho finalizado.
Fig. 6 – Obra Paraíso, trabalho finalizado.

A inventividade é o que move a alma do artista, leva-o ao êxtase da criação. Talvez seja esse o grande ímpeto da Arte, seu mais importante imperativo. O observador, apaixonado pelo mundo e pela vida pode parecer ao mundo apenas uma pessoa distraída e dispersa, mas a ele nada passa em detalhes, enamorado de tudo o que vê. Vale a pena se inspirar.

Confira as aulas em vídeo da Artista Plástica Rosângela Vig:

Aula 1 – A composição da ideia e a divisão da cena no papel:

Aula 2 – Cena completa com os elementos esboçados:

Aula 3 – Início da pintura do fundo da cena:

Aula 4 – A pintura do céu e de superfícies extensas:

Aula 5 – A suavidade do lápis na pintura do céu:

Aula 6 – A mistura de cores do céu no final de tarde e a pintura das montanhas:

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Aula 7 – Término da pintura dos elementos distantes da cena:

Aula 8 – A pintura dos animais:

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Aula 9 – A pintura de outros elementos da cena, as pedras, o mato e a água:

Aula 9.A – A pintura da água:

Aula 9.B – Pintura finalizada:

Material utilizado:

  • Lápis preto para desenho 2B ou lapiseira 0,7 com grafite 2B;
  • Borracha macia;
  • Papel sem textura para desenho gramatura 180, tamanho 42,5 x 17,5 cm;
  • Lápis de cor comum, com 48 cores.

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Artigos sobre a História da Arte da Rosângela Vig:

Referências:

  1. BANDEIRA, Manuel. Manuel Bandeira de Bolso. Porto Alegre: L&PM Editores, 2008.

As figuras:

Fig. 1 – Montanhas, árvores e pedras, Rosângela Vig.

Fig. 2 – Detalhes do pássaro, Rosângela Vig.

Fig. 3 – Parte superior da cena, Rosângela Vig.

Fig. 4 – Detalhes das árvores, Rosângela Vig.

Fig. 5 – Flamingo e peixe na água, Rosângela Vig.

Fig. 6 – Obra Paraíso, trabalho finalizado, Rosângela Vig.

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