Desenho – Produção Artística, Passo a passo 11 de como desenhar por Rosângela Vig

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Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

Balões sobre Florença

Florença… que serenidade imensa
Nos teus campos remotos, de onde surgem
Em tons de terracota e de ferrugem
Torres, cúpulas, claustros, renascença.
(MORAES, 2006, p. 50)

Passo a passo 11 de como desenhar

É possível que a primavera chegue em balões coloridos. Devagarinho, ela vai desatando suas amarras, relaxando o semblante austero do inverno rigoroso, derretendo o gelo e, sem que se perceba, a alegria das flores invade os campos, as floreiras e o coração. E a fantasia vai longe, quando se abre os olhos para o sonho e se permite que as cores invadam o espírito. É disso que a Arte nos fala.

Norteada pelo olhar da fantasia, permiti que um lindo devaneio conduzisse minha alma. Deixei as cores sobrevoarem meu desenho e se transformarem em coloridos balões que saltitam do papel, como se estivessem tentando romper o tênue laço que limita o sonho e a realidade, na tentativa de invadir meu espaço real. O berço do Renascimento foi o palco para essa cena. Desenhada apenas em preto e branco, a cidade de Florença contrasta com as cores dos balões e nos conduz aos tempos de Brunelleschi (1377-1446), de Bottichelli (1445-1510) e do florescer do conhecimento.

A cidade foi desenhada e pintada com os lápis grafite 2B e com o 6B, em papel tamanho 50 por 50 cm, de gramatura 180, com textura e utilizei o esfuminho para dar acabamento nas nuvens. Minha cena se assentou em uma linha horizontal que fiz, um pouco acima da metade da folha. Desenhei então a cidade, seguindo um ponto de fuga principal, que converge para o centro da cena, englobando a grande maioria das construções. Alguns prédios e casas, entretanto estão em pontos de fuga diferentes, porque as ruas ficam em posições variadas, na cidade. Perceba no desenho, como as pontes diminuem, tanto em altura, como em largura, na direção do ponto de fuga principal (Fig. 3). Perceba também como os prédios, suas janelas e suas portas acompanham essa linha imaginária, que pode ser conferida com uma régua. Com a mesma régua, acompanhe os outros pontos de fuga (Fig. 4) e as direções para onde as imagens convergem.

O desenho dos balões é de forma livre, mas vale seguir dicas que ajudam na hora de fazer um desenho como esse, ou qualquer outro. Tudo tem uma forma geométrica. Pode ser um círculo, um triângulo, um quadrado, um hexágono, um losango. Assim é com os balões. A partir de um círculo e de um triângulo, surge um balão (Fig. 5). O hexágono, uma figura de seis lados, pode delinear o cestinho. E foram desenhados muitos balões, em diferentes posições, como se eles estivessem ao sabor do vento que traz a primavera.

Quando se trata de desenho, é sempre bom lembrar de se iniciar sua pintura de cima para baixo, para que não se suje o que já foi pintado. Quando se trata de grafite, o cuidado deve ser maior. Pintei então primeiro o céu da cidade ao fundo depois os balões que estão na parte superior de minha cena. E fui descendo na pintura das partes inferiores. O esfuminho foi de grande utilidade para dar o acabamento nas nuvens e deixá-las com o toque sombreado. No vídeo é possível ver o trabalho com o esfuminho. Um papel que seria descartado serviu-me para apoiar as mãos sobre o desenho, para que o grafite não o sujasse.

Com os balões e a cidade pintados (Fig. 8), o toque tridimensional vem terminar e dar graça ao desenho. Para isso fiz apenas uma projeção do desenho de cada balão sobre a cena já pronta. E todas as projeções foram feitas para o mesmo lado (Fig. 9). Tais projeções são proporcionadas pelo efeito da luz sobre os balões. Imaginei a luz vindo do lado direito da cena, portanto, as sombras deveriam ficar do lado esquerdo. Pintei apenas uma parte dessas projeções (Fig. 10), com o lápis de cor cinza e dei sombra nos balões, do mesmo lado, reforçando um pouco com o lápis de cor preto. Do outro lado de cada balão, fiz um leve risco vertical, com o pastel oleoso branco, para reforçar a luz que vem da direita. Mas esse efeito também pode ser proporcionado pela lapiseira borracha, passando sua ponta, de forma sutil e rápida, apenas do lado direito, deixando riscos brancos.

Os balões nos convidam a um passeio sobre a cidade italiana, onde a Arte e a Cultura clássicas renasceram e tiveram seu apogeu. Suas cores inundam de primavera a cena monocromática. Dá vontade de entrar nesse mundo. E vale terminar o texto com Mário Quintana e sonhar mais um pouco.

Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas,
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Cata-vento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do cata-vento
Dancemos todos em bando.
(QUINTANA, 2007, p. 24)

Confira o vídeo da produção da obra Balões sobre Florença:

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Artigos sobre a História da Arte da Rosângela Vig:

Referências:

  1. MORAES, Vinícius. Livro de Sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
  2. QUINTANA, Mário. Quintana de Bolso. Rio de Janeiro: Ed. L & PM Pocket, 2007.

As figuras:

Fig. 1 – Desenho pronto, Balões em 3D sobre Florença, Rosângela Vig.

Fig. 2 – Desenho riscado no papel, Rosângela Vig.

Fig. 3 – Ponto de fuga principal, Rosângela Vig.

Fig. 4 – Outros pontos de fuga do desenho, Rosângela Vig.

Fig. 5 – Detalhes do balão, Rosângela Vig.

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Fig. 6 – Balões pintados, Rosângela Vig.

Fig. 7 – Céu pintado, Rosângela Vig.

Fig. 8 – Cidade de Florença pintada, Rosângela Vig.

Fig. 9 – Efeito tridimensional, Rosângela Vig.

Fig. 10 – Efeito tridimensional, detalhes, Rosângela Vig.

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